quinta-feira, 22 de março de 2007

"MESTRE, são plácidas / Todas as horas / Que nós perdemos, / Se no perdê-las, / Qual numa jarra, / Nós pomos flores.

Não há tristezas / Nem alegrias / Na nossa vida. / Assim saibamos, / Sábios incautos, / Não a viver,

Mas decorrê-la, / Tranqüilos, plácidos, / Tendos as crianças / Por nossas mestras, / E os olhos cheios / De Natureza...

À beira-rio, / À beira-estrada, / Conforme calha, / Sempre no mesmo / Leve descanso / De estar vivendo.

O tempo passa, / Não nos diz nada. / Envelhecemos. / Saibamos, quase / Maliciosos, / Sentir-nos ir.

Não vale a pena / Fazer um gesto, / Não se resiste / Ao deus atroz / Que os próprios filhos / Devora sempre.

Colhamos flores. / Molhemos leve / As nossas mãos / Nos rios calmos, / Para aprendermos / Calma também.

Girassóis sempre / Fitando o sol, / Da vida iremos / Tranqüilos, tendo / Nem o remorso / De ter vivido."

Fernando Pessoa

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