quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

O dia sempre começava calmo. Os montes tênues, floridos, desenhados com curvas suaves ofereciam aos olhos um agradável sentimento de paz. As árvores cresciam como se desejassem tocar o céu; as águas, límpidas como o branco das nuvens, desciam do pináculo redesenhando o chão com seus traços naturais, preenchendo todas as veredas, donde brotavam maravilhosas flores e gramíneas primaveris [...]

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Que olhos são esses!, verdes, azuis, marrons, que mais parecem duas pérolas, ou esmeraldas, ou castanhas nadando em leite! Se fossemos compará-los com as máquinas hodiernas, estas não passariam de ultrapassadas engrenagens enferrujadas. Os olhos são a prova da perfeição divina; a prova da existência da alma; a representação do caráter; a exteriorização do amor... O acaso neles se finda. Eles são os pesadelos de Darwin. E foi com eles que o homem se descobriu no universo. São também o zênite da sabedoria para os gregos. Olhos...! Quão bela é a tua aparência, a tua transparência. Bendito seja Victor Hugo ao proclamar: “As pérolas não se dissolvem na lama”. Não importa se aquele ou este homem seja ou não benévolo, os olhos sempre permanecerão os mesmos espelhos de vidro; magníficos microcosmos – para todo o sempre – até que se desvaneçam por terra.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

"Um navio de guerra é composto ao mesmo tempo do que há de mais pesado e do que há de mais leve, porque deve lidar, simultaneamente, com as três formas da substância, o sólido, o líquido e o fluido, devendo lutar contra todos os três. Tem onze garras de ferro para agarrar o granito, e mais asas e antenas que uma libélula para receber o vento das nuvens. Seu hálito sai por cento e vinte canhões como relâmpagos enormes, respondendo corajosamente ao raio. O oceano procura desorientá-lo na espantosa semelhança de suas ondas, mas o navio tem uma alma, a bússola, que o dirige, mostrando-lhe sempre o norte. Nas noites negras, seus faróis substituem as estrelas. Contra o vento, tem a corda e a vela; contra a água, tem a madeira; contra o rochedo, o ferro, o cobre, o chumbo; contra a sombra, a luz; contra a imensidade, uma agulha".
Victor Hugo

domingo, 21 de dezembro de 2008

"Enquanto em certa ocasião o filósofo tomava sol no Cranêion, Alexandre, o Grande, chegou, pôs-se à sua frente e falou: 'Pede-me o que quiseres!' Diôgenes respondeu: 'Deixa-me o meu sol!'"
Diôgenes Laêrtios

terça-feira, 25 de novembro de 2008

"A política e o destino dos homens são organizados por homens sem ideal e sem grandeza. Aqueles que têm uma grandeza neles próprios não se ocupam de política. Assim em todas as coisas. Mas trata-se agora de criar em si próprio um novo homem. Seria preciso que os homens de acção fossem também homens de ideal e poetas industriais. Trata-se de viver os próprios sonhos - de os pôr em movimento. Outrora, renunciávamos ou perdíamo-nos. É necessário não nos perdermos e não renunciarmos."
Albert Camus

domingo, 15 de junho de 2008

"Deve aqui pôr-se de lado o preconceito segundo o qual a duração, comparada à desaparição, seria qualquer coisa de notavelmente superior: as imperecíveis montanhas não são superiores à rosa que logo se desfolha, na sua vida que se exala."
Georg Wilhelm Friedrich Hegel

quinta-feira, 22 de março de 2007

"MESTRE, são plácidas / Todas as horas / Que nós perdemos, / Se no perdê-las, / Qual numa jarra, / Nós pomos flores.

Não há tristezas / Nem alegrias / Na nossa vida. / Assim saibamos, / Sábios incautos, / Não a viver,

Mas decorrê-la, / Tranqüilos, plácidos, / Tendos as crianças / Por nossas mestras, / E os olhos cheios / De Natureza...

À beira-rio, / À beira-estrada, / Conforme calha, / Sempre no mesmo / Leve descanso / De estar vivendo.

O tempo passa, / Não nos diz nada. / Envelhecemos. / Saibamos, quase / Maliciosos, / Sentir-nos ir.

Não vale a pena / Fazer um gesto, / Não se resiste / Ao deus atroz / Que os próprios filhos / Devora sempre.

Colhamos flores. / Molhemos leve / As nossas mãos / Nos rios calmos, / Para aprendermos / Calma também.

Girassóis sempre / Fitando o sol, / Da vida iremos / Tranqüilos, tendo / Nem o remorso / De ter vivido."

Fernando Pessoa